A Automutilação: Entendendo o Comportamento e Como Buscar Ajuda
A automutilação é definida como qualquer comportamento intencional que cause danos ao próprio corpo, sem intenção consciente de suicídio. Esse comportamento, muitas vezes repetitivo, pode ocorrer em formas como cortes na pele, queimaduras e autoagressões físicas, geralmente nas áreas dos braços, pernas e abdômen. Embora frequentemente associada a adolescentes e adultos jovens, é mais comum do que se acreditava anteriormente.
Por Que a Automutilação Ocorre?
A automutilação é geralmente uma tentativa de lidar com emoções negativas intensas, como raiva, tristeza ou sensação de vazio. Ela pode ser uma forma de autopunição ou uma maneira de aliviar o desconforto emocional. Apesar de frequentemente ocorrer sem intenção suicida, é essencial avaliar o risco, pois pode estar associada a outros transtornos mentais ou comportamentos suicidas.
Anteriormente considerada exclusiva de transtornos mentais graves, sabe-se hoje que a automutilação pode ocorrer em pessoas sem diagnósticos clínicos evidentes, muitas vezes sem acesso a tratamento adequado. Esse comportamento, quando ignorado, pode evoluir para condições mais graves, incluindo tentativas de suicídio.
Principais Formas de Automutilação
Cortar-se ou queimar-se;
Bater no próprio corpo;
Beliscar-se ou interferir na cicatrização de feridas;
Quebrar ossos intencionalmente ou ingerir substâncias tóxicas.
Geralmente, esse comportamento começa na adolescência, período marcado por impulsividade e reatividade emocional. Muitos adolescentes relatam pouca ou nenhuma sensação de dor ao se machucarem, e o comportamento pode adquirir características viciantes, tornando-se difícil de interromper.
Fatores de Risco e Prevalência
Estudos indicam que:
Entre 13% e 23% dos adolescentes se envolvem em automutilação, com taxas mais altas em pesquisas recentes (até 50%);
Adolescentes que se automutilam frequentemente relatam tentativas de suicídio anteriores, com 70% tendo pelo menos uma tentativa e 55% várias.
Embora existam discrepâncias quanto à prevalência entre meninos e meninas, a automutilação é um problema significativo em ambos os sexos.
Automutilação e Tentativas de Suicídio
Embora distinta do comportamento suicida, a automutilação pode coexistir com ele. Para alguns adolescentes, machucar-se é uma tentativa de lidar com pensamentos suicidas, agindo como um mecanismo temporário de controle emocional. Isso torna essencial diferenciar as motivações e tratar ambas as condições de maneira adequada.
Tratamento e Acompanhamento
O tratamento para automutilação deve ser multidisciplinar, incluindo:
Acompanhamento Médico Psiquiátrico: Para avaliar e tratar possíveis comorbidades, como depressão ou ansiedade.
Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Identifica gatilhos emocionais e ensina estratégias práticas para lidar com eles
Terapia Dialética Comportamental (TDC): Particularmente eficaz em casos graves, ajuda a desenvolver habilidades como:
Consciência Plena (Mindfulness): Para lidar com emoções de maneira mais equilibrada.
Tolerância ao Mal-Estar: Aprender a suportar situações desconfortáveis sem recorrer à automutilação.
Regulação Emocional: Identificar e gerenciar emoções intensas.
Eficácia Interpessoal: Melhorar a comunicação e os relacionamentos.
Como Identificar e Abordar o Problema
Se você acredita que alguém próximo pode estar se automutilando, aqui estão algumas perguntas úteis para iniciar a conversa:
Alguma vez você cortou ou feriu sua pele intencionalmente?
Já se machucou de propósito, como bater ou queimar-se?
Quando se machucou, estava tentando aliviar alguma emoção difícil?
Isso aconteceu diante de outras pessoas ou em segredo?
Alguma vez pensou em se machucar como forma de lidar com a ideia de se machucar mais gravemente ou de se suicidar?
Como Oferecer Apoio
Acolha Sem Julgamentos: Demonstre empatia e escute sem críticas.
Valide os Sentimentos: Mostre compreensão pela dor emocional da pessoa.
Oriente a Busca por Ajuda Profissional: Encaminhe para psicólogos ou psiquiatras especializados.
Evite Pressões ou Minimizações: Não diminua o sofrimento nem force soluções rápidas.
Lembre-se de que a automutilação, embora alarmante, é uma forma de comunicação emocional. Com acolhimento e o tratamento certo, é possível superar esse comportamento e desenvolver formas saudáveis de lidar com as emoções.
Dr. Fábio Martins Fonseca é psiquiatra e psicoterapeuta com mais de 20 anos de experiência. Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Terapia Comportamental Dialética, possui formação pela UNICAMP e certificações internacionais. Oferece atendimento personalizado, baseado em evidências, presencial e on-line, em português e inglês.
Contato:📞 (19) 4141-9003 | 📱 (19) 99184-0456📧 fabiomfonseca@uol.com.br
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