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Foto do escritorFábio Martins Fonseca

"Ninguém se importa com o quanto você sabe, até que saibam o quanto você se importa."


Como psiquiatra, acredito profundamente na frase: "Ninguém se importa com o quanto você sabe, até que saibam o quanto você se importa." Embora o conhecimento técnico seja essencial, o impacto real no cuidado dos pacientes ocorre quando eles sentem que o médico está verdadeiramente interessado e preocupado com seu bem-estar. Isso pode parecer óbvio para alguns, mas muitos pacientes, especialmente aqueles que passaram por tratamentos mais distantes e impessoais, podem não perceber o quanto a empatia e a validação das suas experiências são fundamentais para o sucesso terapêutico.


Frequentemente, pacientes chegam às consultas com a expectativa de receber uma prescrição ou uma técnica que resolva seus sintomas rapidamente. No entanto, o verdadeiro diferencial no tratamento psiquiátrico está na combinação do conhecimento técnico com o cuidado humano. A empatia, a escuta ativa e a validação das emoções são fatores essenciais que muitas vezes passam despercebidos, mas que criam a base para que o tratamento realmente funcione.


Por exemplo, um paciente com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) pode chegar à consulta muito angustiado por pensamentos intrusivos, como o medo de não ter trancado a porta corretamente. Antes de partir diretamente para as intervenções, procuro primeiro compreender e validar a ansiedade que ele sente. O reconhecimento dessa experiência emocional facilita o trabalho nas técnicas terapêuticas para o TOC, como a exposição e prevenção de resposta, mas isso só se torna possível após estabelecer uma base de confiança.


Em casos de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), em que os pacientes muitas vezes compartilham preocupações como "E se eu tomar a decisão errada?" ou "E se algo der errado?", o foco inicial é semelhante. Antes de aplicar técnicas como a reestruturação cognitiva, priorizo ouvir e entender o peso dessas ansiedades. Isso contribui para que o paciente sinta que suas preocupações estão sendo levadas a sério, o que abre espaço para um trabalho terapêutico mais colaborativo.


A empatia se torna ainda mais crucial no tratamento da depressão. Quando uma paciente expressa pensamentos automáticos como "Nada do que eu faço importa" ou "Eu sou um fracasso", ao invés de desafiá-los de imediato, o primeiro passo é reconhecer a dor por trás dessas palavras. Dizer algo como "Entendo o quanto é difícil lidar com esses pensamentos" cria um ambiente seguro, a partir do qual é possível iniciar o trabalho nas intervenções que ajudarão a reconstruir sua autoestima.


Aplicação prática da empatia no tratamento


Na prática, a empatia molda a forma como as intervenções são introduzidas. Quando um paciente relata dificuldades em manter a motivação no tratamento, o primeiro passo é entender o que pode estar por trás dessa dificuldade, ao invés de partir imediatamente para estratégias de motivação. Perguntar algo como "O que você acha que está tornando as coisas mais difíceis neste momento?" ajuda o paciente a se abrir sobre seus desafios, o que enriquece o processo terapêutico.


Essa abordagem também se aplica nas consultas online, onde a conexão pode parecer mais distante. Mesmo no ambiente virtual, é importante que o paciente sinta que estou presente e ouvindo atentamente. Quando um paciente compartilha que está se sentindo isolado, a primeira reação é escutá-lo com atenção, antes de oferecer qualquer conselho. Esse tipo de escuta ativa pode criar um ambiente acolhedor, mesmo à distância.


Empatia e relações de confiança

Ao demonstrar um interesse genuíno, o paciente se sente mais seguro para explorar questões que podem ser emocionalmente difíceis. Em uma consulta recente, por exemplo, um paciente estava hesitante em falar sobre seu medo de ser julgado por suas decisões. Ao notar essa hesitação, em vez de pressioná-lo, ofereci um espaço de validação, dizendo: "Entendo que deve ser difícil compartilhar isso, e está tudo bem. Estamos aqui para conversar no seu ritmo." Isso criou um ambiente de confiança, o que permitiu que ele se sentisse mais à vontade para abordar questões mais profundas, resultando em avanços significativos no tratamento.


Da mesma forma, quando um paciente com TOC relata o medo de que algo terrível aconteça se não realizar suas compulsões, mostro que entendo o sofrimento por trás desses pensamentos, antes de introduzir qualquer explicação técnica. Isso cria uma base de confiança, na qual o paciente se sente seguro para trabalhar nas intervenções, sabendo que suas experiências foram validadas.


Conclusão


A frase "Ninguém se importa com o quanto você sabe, até que saibam o quanto você se importa" significa que, para as pessoas, o conhecimento técnico ou profissional só ganha relevância quando percebem que você está genuinamente preocupado com o bem-estar delas. Ou seja, antes de valorizar o que você sabe, elas precisam sentir que você realmente se importa com suas necessidades e emoções. O sucesso terapêutico acontece quando o paciente se sente verdadeiramente cuidado e compreendido. Essa conexão humana é a base a partir da qual o conhecimento técnico pode realmente fazer a diferença e promover o progresso terapêutico de forma eficaz.


Referência:

Waltman, Scott H.; Codd III, R. Trent; McFarr, Lynn M. Socratic Questioning for Therapists and Counselors: Learn How to Think and Intervene Like a Cognitive Behavior Therapist. Taylor & Francis.


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