O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é amplamente conhecido por suas dificuldades associadas, como a desatenção, impulsividade e problemas de organização. No entanto, quando falamos sobre o impacto desse transtorno no ambiente de trabalho, nos deparamos com um leque de desafios específicos, muitos dos quais podem ser gerenciados de maneira eficaz com estratégias adequadas. Heiner Lachenmeier, em seu livro "ADHD and Success at Work", oferece uma análise profunda de como o TDAH afeta a vida profissional e como aqueles que vivem com o transtorno podem melhorar sua performance no trabalho.
O Dilema: Revelar ou Não o Diagnóstico de TDAH?
Uma das primeiras questões levantadas é o dilema sobre revelar ou não o diagnóstico de TDAH no ambiente de trabalho. Não há uma resposta única e definitiva para essa questão, pois depende de cada circunstância. Em alguns casos, revelar o diagnóstico pode ser vantajoso, especialmente se a pessoa precisar de adaptações no local de trabalho, como um espaço mais silencioso ou a flexibilidade para trabalhar em horários menos convencionais. No entanto, também há o risco de o TDAH ser mal interpretado, levando a preconceitos e incompreensão por parte dos colegas e superiores.
A experiência clínica mostra que muitos pacientes com TDAH se sentem divididos quanto a essa decisão. Uma paciente, por exemplo, enfrentou um cenário em que mudou de emprego e não revelou seu diagnóstico. Após não conseguir se adaptar às novas exigências, ela acabou sendo demitida durante o período de experiência, o que agravou seu quadro de depressão. Anos depois, ao receber o diagnóstico de TDAH, ela entendeu que uma abordagem mais aberta poderia ter resultado em ajustes que a teriam ajudado a se adaptar ao novo emprego.
Evitando Generalizações no Trabalho
Outro aspecto importante é a advertência contra generalizações excessivas sobre como o TDAH afeta o desempenho no trabalho. Nem todos os indivíduos com o transtorno se distraem facilmente em ambientes de escritório abertos ou têm dificuldade com ruídos de fundo. Algumas pessoas, na verdade, funcionam melhor em ambientes com algum nível de estimulação externa, que pode ajudar a canalizar o excesso de pensamentos associados ao TDAH. Portanto, é essencial evitar suposições simplistas sobre as limitações e capacidades de uma pessoa com TDAH.
O caso clínico de outra paciente reforça essa ideia. Ela foi diagnosticada com TDAH na infância e, ao longo da vida, fez escolhas profissionais que priorizaram seu bem-estar emocional. Ao reconhecer suas limitações e evitar trabalhos excessivamente desafiadores, ela conseguiu equilibrar sua vida pessoal e profissional, o que, para ela, foi uma decisão acertada. Para essa paciente, sucesso significava encontrar um ambiente que não a sobrecarregasse, mas que a permitisse usar suas habilidades sem o estresse excessivo.
O Entendimento Pessoal do TDAH: Autoconhecimento é a Chave
Entender como o transtorno afeta seu desempenho no trabalho é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de enfrentamento. A partir de um maior autoconhecimento, as pessoas com TDAH podem observar seus padrões de comportamento e identificar formas de gerenciar os desafios que enfrentam. Isso inclui perceber quando têm dificuldades para priorizar tarefas ou quando suas reações impulsivas comprometem seu desempenho.
Um exemplo clínico envolve pacientes que lutam contra a procrastinação. Muitos relatam que dividir grandes tarefas em pequenas partes gerenciáveis ajuda a reduzir a ansiedade e permite um senso de progresso contínuo ao longo do dia. Essa abordagem pode ser particularmente eficaz para quem tende a se sentir sobrecarregado com grandes projetos.
A Inocência no Jogo Político do Trabalho
Outro ponto importante é a maneira como o TDAH pode afetar as relações políticas no ambiente de trabalho. Indivíduos com TDAH podem ser vistos como ingênuos ou excessivamente sinceros em negociações, o que pode prejudicar suas carreiras. A impulsividade pode levar a revelações prematuras de informações confidenciais ou a decisões precipitadas em situações onde a estratégia e a paciência são essenciais. O controle dos impulsos em reuniões importantes e negociações é, portanto, um fator crítico para evitar conflitos e proteger a carreira.
Vida Social no Trabalho: A Importância das Conversas Informais
A vida social e as conversas informais (small talk) no local de trabalho também são um campo desafiador para muitos indivíduos com TDAH. Embora interações sociais casuais pareçam simples para algumas pessoas, elas são fundamentais para a construção de redes profissionais e para manter boas relações com os colegas. Muitos pacientes com TDAH relatam dificuldades em se envolver nessas conversas de maneira natural, o que pode limitar seu envolvimento social no trabalho. No entanto, praticar essas habilidades, por mais desconfortável que seja no início, pode ser muito útil para a integração no ambiente de trabalho.
O Papel do Sono: Um Fator Essencial
Problemas de sono são comuns em pessoas com TDAH, e podem agravar os sintomas do transtorno no trabalho, como distração e irritabilidade. Estabelecer uma rotina de sono saudável é essencial para manter a produtividade e a capacidade de concentração. Evitar discussões estressantes antes de dormir e criar um ambiente calmo e relaxante são algumas das práticas recomendadas para garantir uma boa noite de sono. Muitos pacientes com TDAH relatam uma melhora significativa no desempenho após adotarem essas práticas, melhorando sua capacidade de foco no trabalho.
Conclusão
O impacto do TDAH no ambiente de trabalho é complexo e multifacetado, e vai além das dificuldades tradicionais associadas ao transtorno. O autoconhecimento, o controle dos impulsos e a prática de estratégias sociais e de gestão de tempo são essenciais para transformar as adversidades em oportunidades. Ao adotar essas práticas, as pessoas com TDAH podem melhorar significativamente sua performance no trabalho, equilibrando suas habilidades com suas necessidades específicas.
Referências
Lachenmeier, H. (2023). ADHD and Success at Work. Springer.
Barkley, R. A. (1997). Behavioral inhibition, sustained attention, and executive functions: Constructing a unifying theory of ADHD.
Brown, T. E. (2005). Attention deficit disorder: The unfocused mind in children and adults. Yale University Press.
Modestin, J., Matutat, B., & Würmle, O. (2001). ADHD in adult psychiatric patients.
Wiklund, J., Patzelt, H., & Dimov, D. (2016). ADHD, risk-taking and entrepreneurship.
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